Quero hoje
outra espécie de delírios.
Chega de vôos ancestrais
e viagens no espaço sideral.
Não quero imagens de estrelas,
vivas ou mortas.
Hecatombes de poetas vivos
no meu peito.
Quero a poesia do aqui;
do “amor à Terra” e das
pontes superáveis.
O delírio palpável das multidões reais
de pessoas falando, sentindo,
comendo,cuspindo
e embriagando-se com amor e arte.
Quero um delírio, hoje, de
coisas simples para fazer
e desfazer continuamente.
O delírio fácil do homem
de rua,
da lavadeira que enxerga, nas
roupas que lava,
o pão concretizando-se,
A transubstanciação
da água tornando-se vinho
e sangue nas minhas mãos.
Delírio de um sol de meio dia
rachando as cabeças
desprotegidas de trabalhadores
braçais.
Não quero, hoje,
a força imagética de semideuses
e nefilins,
todas as construções dos Salmos
e do Eclesiastes.
Quero as páginas indefinidas do livro
da vida
de cada um dos meus amigos.
Revogou-se meu salvo-conduto
para o absurdo,
nonsense é coisa passada,
ou futura,
hoje quero outra espécie de delírios!
Edwin Fernandes Xavier...
Caxias, 07 de janeiro de 2011.