sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Outros Delírios

Quero hoje
outra espécie de delírios.
Chega de vôos ancestrais
e viagens no espaço sideral.

Não quero imagens de estrelas,
vivas ou mortas.
Hecatombes de poetas vivos
no meu peito.

Quero a poesia do aqui;
do “amor à Terra” e das
pontes superáveis.

O delírio palpável das multidões reais
de pessoas falando, sentindo,
comendo,cuspindo
e embriagando-se com amor e arte.

Quero um delírio, hoje, de
coisas simples para fazer
e desfazer continuamente.

O delírio fácil do homem
de rua,
da lavadeira que enxerga, nas
roupas que lava,
o pão concretizando-se,

A transubstanciação
da água tornando-se vinho
e sangue nas minhas mãos.

Delírio de um sol de meio dia
rachando as cabeças
desprotegidas de trabalhadores
braçais.

Não quero, hoje,
a força imagética de semideuses
e nefilins,
todas as construções dos Salmos
e do Eclesiastes.

Quero as páginas indefinidas do livro
da vida
de cada um dos meus amigos.

Revogou-se meu salvo-conduto
para o absurdo,
nonsense é coisa passada,
ou futura,
hoje quero outra espécie de delírios!


Edwin Fernandes Xavier...
Caxias, 07 de janeiro de 2011.